Como lacunas na formação prejudicam profissionais do sensoriamento remoto

Prof Gustavo Baptista
4 min readApr 17, 2021
Composição falsa cor R3G4B1 de dados WPM CBERS4A fusionados com 2m de resolução espacial — Processamento: Prof. Gustavo Baptista

O sensoriamento remoto é uma ciência com amplas perspectivas para os que pretendem construir uma carreira nessa área. As imagens obtidas por sensores em diversas plataformas e as interpretações que possibilitam servem aos mais diversos propósitos investigativos, o que torna o mercado de trabalho cada vez mais promissor para aqueles que se habilitam a processá-las.

Em muitas carreiras, observa-se um fenômeno interessante: após a graduação em nível superior, o indivíduo ingressa no mercado de trabalho, muitas vezes, com um conhecimento superficial que a vivência profissional vai aprofundando e refinando.

Em sensoriamento remoto, a formação acadêmica geralmente se dá por meio de uma ou duas disciplinas inseridas na grade curricular de cursos como Geografia, Ciências Ambientais, Agronomia, Engenharia Ambiental, entre outros. É de se esperar, portanto, que o estudante tenha pouco tempo e limitadas oportunidades para se apropriar dessa ciência. Muitos recorrem a especializações ou ingressam em cursos de mestrado ou doutorado para aprofundarem seus conhecimentos.

Há 30 anos me dedicando à formação de estudantes de graduação e pós-graduação, sempre ficou evidente para mim as dificuldades encontradas por esses estudantes ao processar imagens de satélite. O domínio do software, que garante segurança nos comandos para as operações de processamento, cria a falsa sensação de compreensão dos fenômenos observados.

Processar imagens de satélite não se restringe a realizar operações para atingir determinado resultado. Trata-se principalmente de dominar o conhecimento que jaz subliminarmente às sequências do processamento. É preciso entender a espectroscopia, dominar os conceitos físicos associados à interação da radiação com os diversos alvos e compreender como isso se materializa numa imagem.

Os sensores mudam o tempo todo, mas a base conceitual é a mesma e se aplica a todos. Basta ajustá-los à nova tecnologia. Esse domínio teórico é o diferencial de um profissional do sensoriamento remoto. É sua garantia de autonomia, competência e destaque no mercado de trabalho. Ironicamente, todavia, é justamente essa a lacuna que sempre identifiquei nos estudantes com quem tive a oportunidade de trabalhar.

Esta semana, provoquei minha audiência para sondar a realidade de quem efetivamente vê no sensoriamento remoto seu futuro profissional. Fiz uma pergunta direta: você se vê trabalhando com sensoriamento remoto daqui a 10 anos? Este foi o resultado da enquete que fiz no Instagram, no meu canal no Telegram e no LinkedIn:

Na sequência, pedi que as pessoas me contassem quais as dificuldades que enfrentam para trabalhar com sensoriamento remoto. As respostas confirmaram o que venho percebendo no contato mais próximo com profissionais já inseridos no mercado de trabalho: a falta de domínio teórico, que eu já percebia com os estudantes, persiste e assombra a carreira de muitos desses profissionais.

Ao contrário do que ocorre em outras profissões, a vivência profissional não supre a fragilidade na formação. Ao contrário: torna essa lacuna ainda mais evidente!

É essencial perceber essa realidade e compreender que não se trata de demérito à pessoa que trabalha com o processamento de imagens de satélite, mas reflete as circunstâncias próprias de sua formação acadêmica. Encarar o problema dessa maneira permite que se percorram caminhos alternativos para alcançar o domínio teórico necessário. Essa meta de conhecimento, que significa qualificação profissional e se torna um diferencial na carreira não só é possível, como está muito mais acessível do que se imagina. Você já se deu conta disso?

Faço parte de um grupo de cientistas que cruzou os limites do mundo acadêmico e se valem dos recursos da realidade virtual para difundir conhecimento. No mundo digital, realizo palestras e webinars, criei uma comunidade específica de processamento de imagens de satélite e fui o primeiro a falar em português sobre sensoriamento remoto em podcast. Tudo isso tem me permitido estar mais próximo de quem está nessa área, mapear suas demandas e compartilhar meu conhecimento e minha experiência, de modo a ajudar todos os que investem na continuidade de sua formação para superar as limitações que experimentam no campo teórico.

Hoje, dia 26/2, estarei ao vivo no YouTube, às 19h, conversando sobre esse tema com alguns convidados, que estão em diferentes posições na trajetória profissional do sensoriamento remoto. Reserve um espaço na sua agenda e venha pensar um pouco sobre o seu futuro com a gente!

Um grande abraço!

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Prof Gustavo Baptista

🌎 Geógrafo, PhD, youtuber e podcaster. 🛰 Há mais de 30 anos formando profissionais que atuam nO Fascinante Mundo do Sensoriamento Remoto🛰